Ms_Breaggats

segunda-feira, julho 17, 2006

No paraíso contigo

Desde aquela tarde bem passada junto da casa velha, desde o pedido de casamento do marinheiro, desde que aquelas cocegas na barriga tinham começado, no dia em que ele voltara, Christine nunca mais tinha sido a mesma.
Um mês mais tarde casara com o homem que ela pensava ser o homem da sua vida. E tinha razão. Ninguém a fazia sorrir como ele, ninguém a fazia cantar tão alto durante a noite, junto ao lago, ninguém lhe abria os olhos para a vida tão bem como ele, com as suas palavras sábias e ponderadas, carregadas de sensatez e com o seu olhar calmo e tranquilo.
Eles estavam agora em lua de mel, no mesmo sítio onde se tinham conhecido: junto ao mar, com o leve aroma a maresia e areia, com o céu azul por cima dos dois e o grande ancião e anfitrião de todos os dias a pôr-se lá ao longe, por trás da duna mais alta.
Ao fundo, os altos prédios da cidade davam à praia um ar de proximidade do resto do mundo. Como dois mundos fundidos num só, a praia e a cidade davam um certo equilibro uma à outra.
Agora, dois anos mais tarde, voltavam àquele lugar mágico que os tinha unido.
Era importante para Christine voltar àquela praia. Era aquela praia o ponto de partida daquela história, o começo da sua "vida" e a tardia apresentação do amor.
Como à dois anos antes, o mar continuava calmo, cristalino, e agora começava a ganhar uma cor azul arroxeada graças ao por-do-sol antecipado. A brisa quente que se tinha mantido até ao final da tarde começava agora a tornar-se cada vez mais fresca, de modo que o frio começava a instalar-se.
Mesmo assim, Christine continuava deitada na toalha observando Louis ao longe, enquanto ele estava no mar a nadar.
Minutos depois ele saiu do mar e veio em direcção a ela. Estava todo encharcado, dos pés à cabeça, os calções vermelhos tinham ganho uma cor de vinho intensa.
- Vem para a água! Não queres? - Perguntou ele. Ajoelhou-se à frente dela e afastou-lhe uma madeixa de cabelo escuro da bochecha. Christine sorriu.
- Gosto mais de estar na toalha deitada. Além disso, a água está fria! Está a ficar de noite!
Louis riu. A sua voz ecoou na praia deserta. O céu começava a ficar cada vez mais escuro e as estrelas cintilantes mostravam-se lentamente, escondendo-se por vezes numa nuvem que passava. Ele agarrou-a e levou-a ao colo até à beira da água.
- Louis não! Eu não quero ir para o mar porque depois o carro fica todo molhado!
- Não leves a vida tão a sério. - Disse Louis piscando o olho. Pegou-a ao colo e mergulhou na água. Estava tão fria! Christine sentiu como se tivesse o corpo dentro de um cubo de gelo. Depois emergiu. Louis apareceu subitamente ao lado dela.
- Adoro-te sabias? - Disse ele, passando a mão molhada sobre os cabelos pretos dela. Christine possuia uma beleza serena e tranquila, e ao mesmo tempo selvagem e irreverente. Os seus olhos verdes irradiavam frescura, amor e paz e pareciam acalmar qualquer pessoa. Louis considerava-se um sortudo por um dia tê-la conhecido e por não a ter perdido mesmo aquando da sua longa ausência na marinha.
- Eu sei, eu sei que tu me adoras e também sei que fazes tudo por mim e que sou tudo pra ti! Mas sabes, eu adoro-te mais e faço o impossível por ti porque tu és o meu mundo! - Disse Christine a sorrir. O seu sorriso era contagiante.
Ele estava tão feliz e ela também... Finalmente as longas ausências tinham acabado, ele estava ali, ela estava ali. Ambos estavam juntos no paraíso.

quarta-feira, julho 05, 2006

O Regresso do Marinheiro

Ali, o sol brilhava mais do que diamantes, o céu era mais azul do que o mar, o clima era ameno mas mesmo assim já dava para sentir o calor do Verão que chegaria dentro de algumas semanas.
A palmeira junto à casa velha era suficientemente grande para fazer sombra no lugar onde eles estavam. Deitados. Abraçados. A saborear a vida que Deus lhes tinha oferecido. Era como uma dádiva para ela poder descansar finalmente sobre os braços dele, após tantos meses de ausência na marinha.
Quantas vezes tinha ela chorado a sua ausência, contudo tendo-o sempre vivo na sua mente e no seu coração? E às vezes que as suas irmãs lhe haviam dito «Esquece-o! Não vale a pena!», contrariando os seus instintos e pressentimentos.
Porém, o pesadelo acabara. Ele estava ali e ela nada tinha a temer.
Horas passavam e o silêncio que permanecia ali era genuíno. Nem mais de mil palavras conseguiriam descrever a saudade de um amor que partira por longos meses, com apenas a memória dos bons (e maus) momentos passados entre os dois.
8 da noite. Já o sol se punha para lá da colina e o céu há muito que ganhara um tom alaranjado, a casa velha parecia agora pintada de cor-de-pêssego. Era uma paisagem magnífica.
Foi então que ele, pela primeira vez falou:
- Aceitas casar comigo?
Não bastou mais para o seu coração sorrir, rir, gargalhar contente. Uma explosão de felicidade como nunca havia sentido na vida. Ele, o seu homem, a tinha pedido em casamento. Subitamente um sentimento de protecção e vida nasceu dentro dela! Esperança, alegria, prazer eterno como cura para o veneno que há muito fluía no seu sangue - a ausência do seu homem marinheiro.
- Aceito. - Disse. A voz suave da mulher, agora aliviada, soou como o sino de uma igreja. Não disse nada que pudesse tornar o marinheiro mais feliz.
O silêncio renasceu. Para ele era regresso a casa, para junto das pessoas que amava, para junto da mulher, para junto da sua pátria, para junto da família. Para ele era um regresso ao seu verdadeiro eu. Para ela era o regresso do homem que amava, o seu alívio, a sua salvação. Para a gente da aldeia era apenas o regresso do marinheiro.

Escrito por: Ms_Breaggats


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